Cordel.

Linguagem Nordestina


A linguagem nordestina
É bastante especiá,
É uma língua matuta,
Gostosa de se falá.
Leia com toda atenção,
O cordel que tem nas mão,
Pra pude apreciá.

A linguagem nordestina
É bonita, sem iguá.
Eita linguagem porreta!
Agora vou te falá.
Preste atenção, camarada
Pra você da gargalhada,
Do que agora vou narrá.

Valentão é arrochado.
Tapear é enganar.
Arretado é bom, legal.
Ir embora é arribar.
Bisnaga é pão comprido.
Aprumado é bem vestido,
Bonito pra se danar.

Pra cherá tem o tabaco
Conhecido por rapé.
Uma pessoa baixinha
É chamada batoré.
O otário é brocoió.
Tornozelo é mocotó.
Cabaça, cuia, coité.

O menor dedo da mão
É chamado de mindim.
Vagabundo, sem valor
Aqui se chama chinfrim.
Cascudo é cocorote.
O pescoço é cangote.
Coisa pouca é tiquim.
A boneca é a calunga.
Uma carona é bigu.
Pessoa desajeitada
É chamada cafuçu.
 
Brechá é espioná.
Jato d’água é chiringá.
Sapo grande é cururu.
Gestante é mulher buchuda.
Confusão forrobodó.
Cor vermelha é encarnado .
A garganta é o gogó.
 
Chicote chama chibata.
Sandália é apragata.
Gente burra é um bocó.
Puxa saco é xeleléu.
Barulho se diz zoada.
Uma grande quantidade
Aqui se chama carrada.
Suas costas é a cacunda.
As nádegas são a bunda.
Pessoas ruins, cambada.
Quer ir a lugar distante?
Vá para a baixa da égua.
 
Quando alguém leva vantagem
Se diz que lavou a égua.
Apressado é avexado.
O cansado é enfadado.
Se mede a distância em légua.
O homem que não faz sexo
Aqui se chama encruado.
O que tem muito dinheiro
É chamado estribado.
 
Insistência é lenga-lenga.
Prostituta se diz quenga.
Brôco é abobalhado.
Balaçá a tanajura
Aqui quer dizer dançá.
Velório é sentinela.
Olhar se diz espiá.
Porrada é chapuletada.
 
Palhaçada é presepada.
Não precisa duvidá.
Um banquinho de madeira
Chamamu de tamburete.
Uns pedacinho de cana
Descascada é rolete.
Lagarto aqui é calango.
Soldado raso é samango.
A bengala é o cacete.

Perna fina é cambito.
Seus quadris são as cadeiras.
O crânio chama-se quengo.
Estilingue é baladeira.
Enjoá é entojá.
Defecá se diz obrá.
Diarreia é caganeira.
O nariz chama-se venta
 
Dose de cana é lapada.
Conjunto de coisa é penca
Gargalhada é gaitada.
Pernas tortas é zambeta
Falcatrua é mutreta
Eita língua invocada!
Farto de tanto comer
Aqui se chama entojado.
 
A pessoa que não anda
É por que tá entrevado.
Rugi-rugi é confusão.
Cabra-macho é valentão.
Sem graça é distrenado.
Copo pequeno é caneco.
Caxumba chama papeira.
Porco novo é bacurim.
Prostituta é biscateira.
Aflição se diz gastura.
Grande distância é lonjura.
 
Arupemba é a Peneira.
Uma pessoa espantada
Tem olhão abuticado.
Quem tá bebo, meio tonto,
Aqui se diz calibrado.
Coisa que não presta é peba.
Qualquer ferida é pereba.
Quem tem sorte é cagado.

Peido que não faz barulho
Aqui chamamu de bufa.
Marchante é açougueiro.
Mulher gorda é pantufa.
Conjunto de coisa é penca.
Grupo de pessoa, renca.
Essa língua nos estufa.
Um buraco na estrada
É chamado catabi.
 
Castanha verde e mole
Noi chamamu maturi.
Cocorote é cascudo.
O mentiroso é papudo
Sujar muito é encardi.
Sorvete num saco plástico
É chamado geladinho.
Pessoa pequena ou querida
É chamada de bichinho.
Expressão de espanto, ôxente!
Arrochado, home valente.
Quero ouvir mais um tiquinho.

Um cigarrinho de paia
Noi chamamu de pacaia.
Suporte pros animá
Aqui se chama cangaia
Bando, grupo é magote.
Adolescente é frangote.
O chifre chama-se gaia.
Pra nois xarope caseiro
Chamamu de lambedor.
 
Abafa peido aqui
É nome pro cobertor.
Dentadura chama chapa.
Água e açúcar, garapa.
Pai d’égua é namorador.
Lá na casa-do-chapéu
É lugar muito afastado.
Mucissa é carne sem osso. 
Leso é bôbo, abestado
Jarra d’água é quartinha.
Guarda-sol chama sombrinha.
Que linguajar arretado!

Vou terminar meu cordel
Dizendo com muito agrado
Pra quem leu e gostou
Meu recado foi deixado
Se você não concordá
Estude pra deixá
O preconceito de lado.

Carlos Soares da Silva.
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Nordeste - Tu Me Contas Teus Passos E Eu Te Canto Em Mil Compassos... 


Eu vou contar para vocês,
Num cordel bem “arretado”
A história do Nordeste
Onde o Brasil foi achado.
Em tempos idos, remotos,
Seu Cabral aqui chegou,
No costado da Bahia
A caravela aportou.
Quando gritou “Terra à vista!”
Que visão estonteante!
 
Tanta terra, tantos montes,
Nativas de grande beleza,
Verdejante natureza...
“Esta terra é formosa,
Em se plantando, tudo dá!”
Os intrépidos desbravadores,
Começaram a explorar.
Lançando mão das riquezas
O pau-brasil, com certeza,
Levaram pra tingir as vestes
Da coroa portuguesa.
 
E o indígena selvagem
Foi logo catequizado,
Vestido, perdeu a liberdade,
Por eles foi “civilizado”.
E nos bosques cheios de vida,
Sentiram-se aprisionados.
Nem brado retumbante,
Nem tampouco clava forte,
Flechas por chumbo!
E o indígena aculturado,
Viu dizimado o seu mundo.
Outrossim!
 

Plantou-se ali a lavoura da ganância
E a verdejante exuberância
Em grandes engenhos se transformou,
Trouxeram negros acorrentados,
Amontoados, jogados
Nos porões da embarcação,
Com a alma em farrapo
Tanto horror, tanto mau trato,
Vinham para a escravidão.
Depois, o gado abrindo picadas,
Adentrando o sertão
Aos poucos desbravando
Os caminhos tão fechados
Foi levando negros escravos
Para o plantio do algodão.

Eta sertão nordestino,
Terra da seca danada,
Terra dos buchos vazios,
Chão da terra rachada!
Gente que vive de teima
Com as panelas esvaziadas...
Vou cantar-te nos meus versos
Neste cordel embolado
Vou cantar a tua dor
Teu olhar de desengano
Tua tristeza chorada
Em todos os meses do ano
Os coronéis mandatários,
Grandes latifundiários
Desviam água do açude
Para o gado refestelar.
 

E o pobre sertanejo
Com o gado morrendo à míngua
Esse fica ao deus-dará!
Nem a súplica do vaqueiro
Com os olhos cheios d’água
Faz cair água de “riba”
Na terra tão ressecada...
Sua prece é um lamento
Só desaba a sua mágoa
Nem aboio, nem viola
Só a seca excomungada!

Plantar justiça neste chão,
Esta é a solução!
Só assim a terra seca
Há de ter produção.
E a miséria brota solta,
Causando indignação.
Cresce qual erva daninha
No solo da enganação!
Mas os que padecem na dor
Não aguentam a desolação
Juntam os trapos numa trouxa
Jogam em cima de um caminhão.
Outros vão marchando a pé
Abandonando o sertão.

Nordeste de Canudos,
De Antonio Conselheiro,
Da fé do “Padim Padi Ciço”
Do lavrador, do vaqueiro.
De um cabra afogueado,
Um terrível capitão,
Com ele era na bala,
Não tinha conversa não!
Cabra da peste arretado
Robin Hood do sertão,
Virgulino, o rei do cangaço,
O temível Lampião!

Nordeste dos literatos

De Amado e Alencar
Terra de Gonçalves Dias,
De Bandeira e Gullar.
Terra de Gilberto Freyre,
Da poesia e da prosa
Terra de Coelho Neto
E do grande Rui Barbosa
Terra de Castro Alves,
Suassuna, João Cabral,
Terra de Graciliano,
Patativa, fenomenal!

Terra de tanto expoente,
Do cordel e do repente,
Do frevo alegre e fremente
Que chega pra incendiar.
Terra do tambor-de-crioula,
Do coco e do cupuaçu,
Do acarajé, da buchada,
Da cambinda e da cambada,
Ao som do maracatu.
Nordeste das emboladas,
Dos repentes, dos cordéis,
Da viola enluarada,
Mamulengos e afoxés.
 

Na roda da tua ciranda
Vou rodando pra outras bandas
E vou pras bandas de lá
Pegar um Ita pro norte,
Vou pra Belém do Pará
Misturar o bumba-meu-boi
Com o famoso boi-bumbá.
Conhecer a selva amazônica
Paraíso universal,
Milagroso pulmão do mundo
Floresta descomunal!
 
Adeus meus algodoais,
Vou pras terras do Amazonas
Conhecer os seringais.
O Acre de Chico Mendes,
Defensor da natureza!
Rondônia e Tocantins,
Roraima e Amapá
E toda a gente de lá!
A cerâmica e os búfalos,
Na ilha de Marajó,
Os teatros, a marujada,
E a arte rococó.
Sacudir o esqueleto
No ritmo alucinante
Da dança do carimbó!

E a arte corre solta

Por toda essa grande nação
Terra de luz e de canto
Que se espraia no encanto
Por todo canto a que se vai!
Na harmonia da sanfona,
Nas cordas do violão,
Nas notas alegres ou tristes
Na sinfonia do coração.
No batuque do tambor
Ressoa o nosso amor!
Nos passos de tua gente,
Meu Brasil, vamos em frente,
Saudamos- te com louvor!

Maria da Graça Bergamini Gusmão.
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O Menino Da Bicicleta.


Um menino andar de bicicleta
Pela praça ou no meio da rua
Impedindo passagem minha e sua
De uma via urbana completa
Mesmo ele não sendo um atleta
Simplesmente um crica mandrião
Sem respeito ao jovem e ancião
Aprontando com muita pirueta
Depois passa fazendo careta
Isso é falta de boa educação.

Uma dúvida logo aparece
Por que será que esse menino
Tem um comportamento traquino
E a todos ele desobedece
Com palavras feias ele cresce
Passa a ter um jeito de agressor
Jogo a culpa para o professor
Que bons modos a ele não ensina
São assim os meninos da esquina
Que não sabe o conceito de valor.

Será que o menino desse jeito
Obedece em casa mãe e pai
Se mandado será que ele vai
Mostrando que é cabra de respeito
Faz todo serviço satisfeito
Sem contrariar os seus valores
Na escola obedece aos professores
Pois as regras ele aprendeu em casa
E assim em nada ele se atrasa
E a todos ele trata com amores.

Mas quero saber quem é culpado
Dessa bicicleta correr tanto
Do professor não é, isso eu garanto
Deve ser de quem tenha inventado
O pneu ser redondo não quadrado
Os sumérios são donos desse feito
Precisamos então culpar direito
Quem a um erro desses cometeu
Veja bem o culpado não fui eu
Deve ser de quem quer perfeito.

A família talvez tem culpa nisso
Por não ter trabalhado o tal limite
O que pode e o que não se admite
Sem valorizar o compromisso
Deixando o correto ser omisso
Querendo que somente a escola
Coloque os valores numa sacola
E faça com que esse garoto
Mude logo seu jeito de maroto
Num passe de mágica na cartola.

O culpado é o bem ou é o mal?
Do menino ser deseducado
E cadê o programa destinado
Pra tornar esse cabra racional
O trabalho e assistência social
E de outros setores de defesa
Pra tirar a criança da pobreza
E torná-la assim um cidadão
Trabalhar o que é educação
Sem deixar a escola indefesa.

Me diga a verdade seu dotor
De quem é a responsabilidade
Dum menino aqui nessa cidade
Se tornar muito cedo um infrator
Ele às vezes tem jeito de cantor
Mais lhe falta incentivo cultural
Ou por que não dizer falta real
Bem na mão desse novo talento
Pois sem incentivo eu lamento
Não se forma um cidadão leal.

Há quem diga é culpa do sistema
Outros que é só dos governantes
Mais tem quem se acha importante
E sabe onde está o problema
Sai assim pregando o seu dilema
Professor tem a culpa de tudo
Mais quem fala porque não é mudo
Se critica até a religião
Que aceita os “fies” sem condição
Analise fazendo um estudo.

É importante que se entenda
Que a educação sistematizada
É para a escola destinada
E queremos que o aluno aprenda
Que ele venha não só pela merenda
Ou porque está sendo obrigado
Falta educação do outro lado
Da família, igreja e pastorais
Dos trabalhos ditos sociais
Tudo deve ser bem analisado.


 José Carlos da Silva.

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