Um Pouco de Blues.

BB King - Touro Sentado.


Sua música atravessou o oceano e influenciou artistas como Keith Richards e Eric Clapton, que na década seguinte invadiram as paradas de sucesso americanas. BB King é o ultimo pioneiro vivo do blues. 
Riley B, King nasceu nos arredores de Indianola, cidade do estado americano de Mississippi, em 16 de setembro de 1925. Quando King completou 4 anos, seus pais se separaram.  Ele foi morar com a mãe e a avó e, aos 10 anos, já trabalha nos campos de algodão. ganhava 35 centavos de dolár por dia. Nas plantações, ouvia os cantos entoados pelos catadores, que estão na raiz do blues. Uma de suas tias possuía um fonógrafo. Sua maior diversão passou a ser escultar os discos de Blind Lemon Jefferson e Mississippi John Hurt. Ele comprou sua primeira guitarra aos 12 anos. " Era acústica por que não havia eletricidade na minha casa ", diz. Em 1946 ,mudou-se para Memphis decidido a se tonar músico e, três anos depois, já era um artista em ascensão. Adotou o nome artístico de BB King: o BB. Quer dizer Blues Boy.
    De todos os gêneros de música negra que floresceram no começo do século XX nos Estados Unidos, o blues foi o mais marcado pela memória da escravidão. O jazz tinha um espírito de liberdade e desafio (traduzido na improvisação), o rhythm'n'blues exaltava a sexualidade e o soul era celebratório.
    Mas o blues - palavra que em inglês quer dizer "tristeza" - remetia à vida nas senzalas ou à miséria dos negros no período posterior a abolição. Não por acaso, quando o movimento dos direitos civis ganhou força nos Estados Unidos, em meados do século XX, os jovens negros passaram a rejeitar esse tipo de música. "King então se voltou para a América branca. Ele apresentou o blues a esse público", explica Peter Guralnick, historiador e crítico musical. O fato de tocar para brancos lhe rendeu apelidos como "Pai Tomás" (em alusão à figura do negro dócil, eternizado no livro da escritora Harriet Beecher Stowe). "Os insultos me machucaram, mas não me destruíram. Para mim, o racismo não se combate com violência, mas com trabalho e educação", diz ele. O preconceito racial é um tema central da autobiografia de King. Ele o aborda com indgnação, mas sem raiva. Lembra-se do bisavô escravo e de ter de caminhar 9 quilômetros, todos so dias, para chegar a uma escola que aceitava negros.
     Diz que as imagens de um linchamento que presenciou na infância o perseguem até hoje. E fala do período que passou no exército, aos 18 anos: "Os soldados brancos preferiam sentar-se ao lado dos prisioneiros alemães a ficar conosco. Sentiam-se mais à vontade com pessoas que poucos dias antes estavam matando americanos".
     King tem quinze filhos com quinze mulheres (mas só se casou duas vezes) e atualmente está solteiro (2011). É dono de uma rede de restaurantes - a BB King Blues Club & Grill -,  mas a música é seu principal negócio: estima-se que ele tenha vendido mais de 40 milhões de discos ao redor do mundo. "Existe a história do bluesman que vende a alma ao diabo para tocar melhor. Talvez eu tenha topado com ele, mas nunca o reconheci", brinca. " E não é necessário ser triste e pobre para tocar blues. Sou bluesman. E sou feliz".

Testemunha ocular da história.

A Grande Depressão:

BB King perdeu a mãe quando tinha 10 anos de idade, em 1935. O país vivia o período da Grande Depressão, e ele tirou seu sustento catando algodão. Foi alu que entrou pela primeira vez em contato com o blues.

II Guerra Mundial:
Em 1944, BB King foi chamado para sevir no Exército americano. Não chegou a ir para a frente de batalha, mas se assustou ao pressenciar cenas de racismo dos soldados brancos. "Eles preferiam ficar ao lado dos prisioneiros alemães a conversar com os negros".

Direitos Civis: 
BB King era amigo de duas personalidades que lutaram pelos direitos civis dos negros americanos: Medgar Evers e Martin Luther King. Evers foi assassinado em 1963, e desde então BB King organiza um festival em sua homenagem, que acontece em Indianota todo mês de junho e dura quatro dias. O guitarrista nãe recebe cachê e o dinheiro vai para entidades não governamentais.


Iderlan Ferreira.
  

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Mas... o que é Blues ?


Escravos nas fazendas de algodão ?
Robert Johnson ?
Big Bill Broonzy ?
John Lee Hooker ?

"Blues". Logo de cara, podemos definir esta palavra como "triste", "tristeza" ou até mesmo "melancolia". Uma definição completa e exata do Blues é muito difícil, eu diria que é até impossível, pois se ele é um gênero musical, foi também muito mais do que isso para o povo negro que o criou, povo este tão sofrido e que encheu o nosso mundo de arte! Historicamente falando o Blues surgiu quando os escravos das fazendas de algodão que acompanhavam as margens do rio Mississipi no sul dos Estados Unidos, por volta de 1870, criavam e cantavam melodias lentas e chorosas, que além de marcar o ritmo, mostrava a expressão e o contorno de um povo desprezado, discriminado e sofrido. 
        É verdade também que a expressão "The Blues" não se popularizou antes da Guerra Civil Americana. Universalmente aceito, admirado e reconhecido em toda a parte como uma fonte maior de influência da música popular contemporânea, ativando novas vocações no mundo inteiro, o Blues deixou de ser verdadeiramente popular entre o povo negro-americano que o criou. No começo o Blues representava intrinsecamente a expressão da cultura musical de uma minoria, isto é, a população negra norte- americana.
Simples, sensual, irônico e poético o blues era realmente um reflexo positivo do digno negro americano.
De fato, o Blues nasceu com o primeiro escravo negro da América. Da África os negros trouxeram sua expressão vocal básica, os hollers, os gritos de entonação estranha que cortavam o céu do Delta. 
       O Blues em essência é a música dos negros levados da África para os Estados Unidos, para trabalhar como escravos nas plantações de algodão no sul do país. Objetivava amenizar o sofrimento destes trabalhadores e também lembrá-los de sua origem.
No seu desenvolvimento, porém, sofreu influências não só africanas, mas também das mais tradicionais baladas européias e marchas militares. Como estilo musical, o Blues evoluiu a partir do século passado. Surgiram pequenas variações estilísticas, algumas determinadas apenas por diferenças geográficas.
Cada região região tinha o seu expoente do blues; alguns exemplos são o Delta blues (o blues de raiz do delta do Mississipi acústico), o blues de Chicago (a fusão entre o blues acústico do Delta e a introdução da guitarra elétrica no blues) e o Texas Blues (um blues elétrico e rápido). A depressão de 1929 ocasionou novas diversificações estilísticas no Blues.
       Milhares de negros desempregados saíram do sul e migraram para o norte em busca de trabalho, principalmente nos grandes centros industriais como Chicago e Detroit. Desenvolveu-se assim, uma diversificação entre o Blues do Delta do Mississipi, o chamado Blues rural do sul e o Blues urbano do norte. Este último centralizado na cidade de Chicago. O Blues de Chicago cresceu em clubes fechados e bares, tornando-se mais estridente, eletrificado, e dissonante que o tradicional Blues acústico do sul. Com o som de Chicago teve início a utilização de guitarras, teclados, percussão e baixo para acompanhar os cantores.
       O estilo próprio de Chicago evoluiu ainda mais com a chegada no período pós-guerra de vários cantores. Categorizar o Blues por personagens que fizeram e fazem sua história é tarefa árdua para qualquer amante do gênero. O ciclo dos Deuses começa no Delta do Mississipi e desemboca em Chicago, Detroit, em algum lugar do Texas e até mesmo no Brasil...
 
"As pessoas costumam me perguntar onde surgiu o Blues, e tudo o que posso dizer é que quando eu era rapaz, sempre estávamos cantando nos campos. Na verdade não cantávamos, você sabe, gritávamos, mas inventamos as nossas canções sobre coisas que estavam acontecendo conosco naquele momento e acho que foi assim que começou o Blues." 

Son House. 

O poeta do Blues que cantava canções profanas e religiosas com a mesma força, volúpia e intensidade!
(1902-1988).


Texto: Hamilton Coragem.

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